Psicodiagnóstico 


Uma visão geral de psicodiagnóstico

                    De acordo com Araújo (2007), o conceito de diagnóstico tem origem na palavra grega diagnõstikós, que significa discernimento, ou seja, a faculdade de conhecer. Na forma como vem sendo utilizado, na atualidade, significa estudo aprofundado realizado com o objetivo de conhecer determinado fenômeno ou realidade, por meio de um conjunto de procedimentos teóricos, técnicos e metodológicos. Também, de acordo com a autora, no âmbito da Psicologia, as práticas de diagnóstico e avaliação psicológica tiveram, e têm ainda hoje, um papel fundamental na formação e constituição da identidade profissional do profissional de Psicologia. A avaliação psicológica é tida como um procedimento clínico que envolve um corpo organizado de princípios teóricos, métodos e técnicas de investigação tanto da personalidade como de outras funções cognitivas, tais como: entrevista e observações clínicas, testes psicológicos, técnicas projetivas e outros procedimentos de investigação clínica, como jogos, desenhos, o contar estórias, o brincar etc.



                 A escolha das estratégias e dos instrumentos empregados é feita sempre de acordo com o referencial teórico, o objetivo (clínico, profissional, educacional, forense etc.) e a finalidade (diagnóstico correto, indicação de tratamento, bem como a prevenção). Com certeza é através do psicodiagnóstico que os psicólogos conseguem uma descrição e compreensão da personalidade do seu paciente. Desta forma, há subsídios para que possa haver um prognóstico preciso e consequente adequado encaminhamento terapêutico. No Psicodiagnóstico Tradicional, apesar de ser atribuído ao psicólogo o papel de elemento mais importante do processo, o valor do conhecimento depende principalmente da qualidade dos instrumentos utilizados, especificamente de sua validade e precisão, supondo que elas garantiriam uma síntese final realista e coerente do caso. Essa pressuposição nem sempre é verdadeira, dadas as inúmeras contradições internas com que o profissional se depara no momento de escrever a síntese e que necessitam ser por ele solucionadas e integradas.



                 No Psicodiagnóstico Interventivo a situação é um pouco diferente, já que a priorização de instrumentos pouco estruturados e baseados na associação livre faz com que considerações sobre sua validade, precisão e padronização estatística percam muito do seu sentido. Buscando conhecer o que existe de singular na pessoa, interessa menos saber em que ela se aproxima ou desvia da amostra de padronização e, mais, as razões e o significado de sua conduta. Segundo a psicóloga e estudiosa Ana Maria Sarmento Seiler Poelman: “Podemos dizer que o processo psicodiagnóstico numa perspectiva humanista, compreensiva, se assenta em dois pilares: a competência técnica do profissional e a qualidade da relação interpessoal que se estabelece. Comporta a utilização de diversas técnicas de avaliação psicológica. Distingue-se dos outros modelos de psicodiagnóstico pela ênfase que dá ao encontro intersubjetivo e à maneira diferenciada como são utilizados os instrumentos de avaliação.



             O psicólogo funciona como o facilitador do processo de reconhecimento, pelo cliente, de aspectos seus, intrapsíquicos e interpessoais, que, embora presentes no seu campo de experiências não eram considerados, impedindo, por isso mesmo que o cliente utilizasse adequadamente seus recursos psíquicos.” O que é psicodiagnóstico?: Segundo Araújo (2007), o psicodiagnóstico é definido como um procedimento clínico estruturado que utiliza testes psicológicos, e a entrevista clínica diagnóstica, que adota procedimentos menos estruturados de investigação da personalidade, como o jogo, o brincar livre e espontâneo, o desenhar e contar estórias. O psicodiagnóstico inaugurou uma nova visão da avaliação psicológica, diferente da realizada pelos “testólogos” da Psicometria.



            Ao adotar uma perspectiva clínica, mais identificada com a teoria psicanalítica ou fenomenológica, distanciou-se da preocupação com a neutralidade e a objetividade, passando a enfatizar a importância da subjetividade e dos aspectos transferenciais e contratransferenciais presentes na relação. E o uso dos testes passou a ser complementado com outros procedimentos clínicos, com o objetivo de integrar os dados levantados nos testes e na história clínica, para obter uma compreensão global da personalidade do indivíduo. De acordo com Yehia (2004), o psicodiagnóstico é compreendido como conhecer (gnose) através de (dia), e pode se dar a partir do encontro entre psicólogo e cliente, propiciando, na medida do possível, a abertura para novas possibilidades de compreensão, a partir do possível estranhamento inicial e posterior saída do impessoal, aproximando ambos da experiência vivida. Deste modo, segundo os estudiosos, o psicólogo se mantém em contato com a experiência do cliente, “contato vivido, afetivo e intelectual”.

            Resumidamente, psicodiagnóstico é um processo de formação do psicólogo clínico e se baseia na avaliação de personalidade e sua dinâmica. É considerado como uma técnica limitada no tempo, que utiliza técnicas e métodos psicológicos para avaliar forças e fraquezas do paciente para determinado sintoma e organização para tal sofrimento. Cabe ao psicólogo auxiliar a identificar os conflitos Seu principal objetivo é a investigação do funcionamento da pessoa, seu nível de maturidade, bem como organização. Francisco, em 1989, evidencia um trabalho no qual consistia na apresentação de uma proposta de abordagem diagnóstica e terapêutica em quadrinhos, cuja seqüência é elaborada conjuntamente por paciente e terapeuta, e ao longo da qual vai se evidenciando e tomando forma o movimento interior do diálogo assim estabelecido. Esta forma de trabalho seria um coadjuvante a outras formas diagnosticas e terapêuticas inseridas dentro da linha teórica preferencial do terapeuta. 

           No processo psicodiagnóstico, utiliza-se comumente entrevistas semi-estruturadas, considerando que o entrevistador tem clareza de seu papel e de seus objetivos. Se o cliente, por alguma razão foge ao proposto, novamente ao entrevistador compete entender a razão, aceitar e levar o cliente tanto à compreensão como a retomar o objetivo proposto. Pode-se citar como exemplo, o caso de pais que procuram um atendimento para seu filho e começam a falar de seus problemas conjugais ou de seus problemas no trabalho. Caberá ao entrevistador saber encaminhar a entrevista para junto com o cliente saber definir o que será feito, levando-se em conta que este poderá já ser um dado a ser investigado. Principais teóricos: No Brasil, o modelo de psicodiagnóstico, desenvolvido por Ocampo e colaboradores, bem como Arzeno e Piccolo, tem norteado o trabalho de grande parte dos profissionais da área. Os modelos compreensivo de Trinca e fenomenológico de Ancona-Lopez, Cupertino e Yehia também são bastante utilizados. O psicodiagnóstico proposto por Cunha é outra referência importante no contexto brasileiro.

         Ocampo e Arzeno sistematizaram o procedimento do psicodiagnóstico dentro do referencial psicanalítico, desenvolvendo uma concepção ampla e enriquecedora, que valoriza a entrevista clínica (em vez da tradicional anamnese descritiva), a relação transferencial/contratransferencial e a devolução, ao final do processo. Para essas autoras, o psicodiagnóstico é uma prática clínica bem delimitada, com objetivo, tempo e papéis definidos, diferenciada do processo analítico. É realizado sempre com o objetivo de obter uma compreensão profunda e completa da personalidade do paciente (ou do grupo familiar), incluindo elementos constitutivos, patológicos e adaptativos. Abrange aspectos presentes (diagnóstico atual) e futuros (prognóstico), sendo indicado para esclarecimento do diagnóstico, encaminhamento e/ou tratamento. Utiliza, como principais instrumentos, a entrevista clínica, a aplicação de testes e técnicas projetivas, a entrevista devolutiva e a elaboração do laudo (quando solicitado).

             Como em todo procedimento clínico, tem um cuidado especial com o enquadre: no início do processo, definem-se o objetivo; os papéis de cada um (psicólogo, paciente, pais e/ou família); a duração (em média quatro ou cinco sessões, que podem ser ampliadas ou reduzidas, de acordo com a necessidade); local, horário e tempo das entrevistas; honorários e forma de pagamento. Para Ocampo e colaboradores (2005), o psicodiagnóstico é um processo que envolve quatro etapas. A primeira vai do contato inicial à primeira entrevista com o paciente; a segunda é a fase de aplicação dos testes e técnicas projetivas; a terceira é o encerramento do processo, com a devolução oral ao paciente (e/ou aos pais); e a quarta consiste na elaboração do informe escrito (laudo) para o solicitante. Arzeno (2003) detalha essas etapas em sete passos. O primeiro passo inclui desde a solicitação da consulta pelo cliente até o primeiro encontro pessoal com o profissional. Nessa fase, é importante observar como é feito o contato inicial, quais as primeiras impressões etc.

              O segundo passo envolve a realização das primeiras entrevistas, quando se busca identificar o motivo latente e manifesto da consulta, as ansiedades e defesas que o paciente, pais e/ou família apresentam, as expectativas e fantasias de doença e de cura que trazem. É importante observar como o paciente se coloca diante da situação, o que é priorizado no relato, que tipo de relação estabelece com o psicólogo (e entre si, no caso do casal e/ou família), para identificar os aspectos transferenciais e contratransferenciais, bem como as resistências e a capacidade de elaboração e mudança. O terceiro passo é o momento de reflexão sobre o material colhido e análise das hipóteses iniciais, para planejamento dos passos seguintes e escolha dos instrumentos diagnósticos a serem empregados. O quarto passo é o momento da realização da estratégia diagnóstica planejada – entrevistas e aplicação dos testes e técnicas selecionadas, de acordo com o caso. Em geral, age-se conforme o planejado, mas, se houver necessidade, podem-se introduzir modificações, durante o processo.

          O quinto passo é o momento da análise e integração dos dados levantados. É o estudo conjunto do material apreendido nas entrevistas, nos testes e na história clínica, para obter uma compreensão global do caso. Essa fase exige do profissional domínio teórico-metodológico e grande capacidade analítica, a fim de identificar as recorrências e convergências entre os dados, assim como os aspectos mais relevantes dentro do material, que possibilitam uma compreensão ampla da personalidade do indivíduo e/ou da dinâmica familiar e do casal. O sexto passo é o momento da devolução da informação, que pode ser feita em uma ou mais entrevistas. Geralmente, é realizada de forma separada – uma com o indivíduo que foi trazido como protagonista principal da consulta, e outra com os pais e o restante da família. Frequentemente, durante a entrevista devolutiva, surgem novos elementos, os quais ajudam a validar as conclusões ou esclarecer os pontos obscuros.

           O último passo envolve a elaboração do laudo psicológico com as conclusões diagnósticas e prognósticas, incluindo as recomendações terapêuticas adequadas ao caso. A elaboração do laudo é um aspecto importante do processo, pois, quando malfeito, pode prejudicar o paciente, em vez de ajudá-lo. Segundo os artigos, o processo diagnóstico do tipo compreensivo, desenvolvido por Trinca (1980) é outro modelo muito difundido entre os profissionais brasileiros, que trabalham com avaliação psicológica na abordagem psicanalítica. Ele também busca uma visão totalizadora e integradora da personalidade, por meio de uma compreensão abrangente das dinâmicas psíquicas, intrafamiliares e socioculturais. Para isso, utiliza referenciais múltiplos – além da psicanálise, a análise é complementada com outros referenciais teóricos (teorias do desenvolvimento e maturação e da família). Tem ainda, como características importantes, a valorização do pensamento clínico e uma maior flexibilidade, na estruturação do processo. O modelo compreensivo se estrutura de acordo com o contexto.

           O uso ou não de testes psicológicos ou de outros procedimentos clínicos de investigação da personalidade fica na dependência do pensamento clínico empregado. Na interpretação dos dados, o pensamento clínico funciona como um princípio organizador, definindo critérios, procedimentos e esquemas de raciocínio para integração dos dados e análise. Ele é influenciado não só pela teoria como pela experiência clínica do profissional, pelo contexto e pelas personalidades do cliente e do psicólogo. O psicodiagnóstico fenomenológico de Ancona-Lopez, Cupertino e Yehia (1995) introduz algumas mudanças significativas no modelo proposto pelos pesquisadores Ocampo e Arzeno. No modelo fenomenológico, o cliente é um parceiro ativo e envolvido no trabalho de compreensão e eventual encaminhamento posterior. O psicólogo se afasta do lugar de técnico ou especialista detentor do saber e estabelece com o paciente uma relação de cooperação, em que a capacidade de ambas as partes, de observarem, aprenderem e compreenderem constitui a base indispensável ao trabalho.

           Psicólogo e paciente se envolvem, a partir de pontos de vista diferentes, mas igualmente importantes, na tarefa de construir os sentidos da existência de um deles – o cliente. Embora o Psicodiagnóstico Tradicional (de Ocampo, Arzeno e Piccolo) integre conceitos da Psicanálise para a compreensão do material produzido pelo paciente na entrevista e testagem, o processo se torna incongruente já que o método psicanalítico não é acatado. Nessa situação não é possível articular uma Psicologia não psicanalítica com a Psicanálise sem a ocorrência de rebaixamentos conceituais nos dois campos, com perda de rigor teórico. Subsidiando esse ponto de vista, Pacheco Filho (2000) afirma que vários psicanalistas recearam que a aproximação entre Psicologia e Psicanálise descaracterizasse esta última no que possuía de mais original e criativo. Há a afirmação de que o resultado dessa junção foi 0a deformação do discurso freudiano e o silenciamento das dimensões mítica e fantasmática da experiência por um modelo preocupado com a adaptação social e com o comportamento.

         Essa deformação é representada no Psicodiagnóstico Tradicional, que incorporou principalmente as contribuições da Psicologia do Ego, deixando pouco espaço para análises dinâmicas baseadas no significado simbólico dos estímulos das técnicas de avaliação. Em termos práticos, ela se operacionalizou na ênfase dada à avaliação das funções egóicas, resultando na submissão da Psicanálise ao modelo médico-psiquiátrico. Com isso, ao invés de preservar o caráter científico do psicodiagnóstico, tal incorporação contribuiu para fomentar o distanciamento entre a Psicanálise e a Ciência, além de trazer mais uma contradição interna ao procedimento avaliativo. Nesse sentido, a despeito de acatar as diretrizes qualitativas da pesquisa psicanalítica, há estudiosos que defendem que a Psicanálise é uma Ciência exata, porque o pensamento inconsciente não é inexato como se costuma dizer. O que acontece é que as fantasias, desejos, sentimentos e conflitos, que ele contém, aparecem distorcidos pelas defesas do ego. O pensamento inconsciente possui lógica própria e não pode ser apreendido, nem pelo pensamento racional, nem pela fantasia isoladamente, mas por uma combinação de ambos; somente assim seria possível encontrar a exatidão e a fecundidade da pesquisa psicanalítica. Situação similar acontece no Psicodiagnóstico Interventivo, pois o encontro do conflito nodal da personalidade, que pressupõe o desvelamento das características dos objetos internos e de seus relacionamentos entre si e com o ego, das angústias dominantes e das defesas empregadas para o seu controle, das condições constitutivas do self e sua capacidade para a transicionalidade, confere coerência e sentido ao material produzido na situação de tratamento/avaliação.

             Essa coerência e sentido atestariam a validade do processo, superando a confiabilidade informada pelos índices de validade e precisão dos testes psicológicos. A integração entre Psicologia e Psicanálise no Psicodiagnóstico Interventivo permite apreender o que existe no indivíduo de mais criativo, original e singular, a significação que ele atribui à experiência, conforme construída no contexto de um estilo de ser em desenvolvimento mediante o relacionamento com o outro; assim, vai além da ênfase na adaptação à realidade. Alguns psicanalistas consideram a existência de um modelo de reação regido por mecanismos psíquicos anteriores à experiência, que a condicionariam e conformariam. Segundo esse pensamento, mecanismos e experiências psíquicas seriam distintos. O conceito de psicodiagnóstico mudou ao longo dos anos?: Segundo Araújo (2007), o psicodiagnóstico, realizado segundo os modelos anteriormente descritos, apesar de continuar sendo uma importante estratégia de avaliação psicológica, fundamental na formação e atuação profissional dos psicólogos, tem sido, nos últimos anos, objeto de muitas críticas, especialmente pelo uso, muitas vezes desnecessário, de uma extensa bateria de testes psicológicos, pelo longo tempo gasto no processo e, também, pelo uso indevido de laudos, frequentemente mal elaborados. Porem, tais críticas não anulam a importância e a indicação do psicodiagnóstico, principalmente em situações específicas que exigem um estudo mais aprofundado para um diagnóstico diferencial. Mas, frequentemente, se o profissional possui experiência clínica e um bom domínio teórico e técnico, é possível utilizar procedimentos de avaliação mais simplificados, que exploram com criatividade e profundidade os recursos da entrevista clínica diagnóstica. Atualmente, no meio psicológico acadêmico e profissional, alguns profissionais de formação psicanalista rejeitam radicalmente o uso de qualquer teste ou técnica de investigação da personalidade.

          No trabalho diagnóstico, utilizam apenas a entrevista psicanalítica nos moldes realizados por Freud, Lacan e Mannoni. No ano de 1972, Silveira enfatiza o psicodiagnóstico de Rorschach, o que até o momento constituía o instrumento mais preciso e mais versátil para estudar a personalidade humana. Entretanto, como qualquer outro aparelho de precisão, os resultados que fornece variam em função da técnica de quem o aplica e da objetividade empenhada. No artigo mais antigo usado neste trabalho, Adalo (1984) destaca o papel emergente do psicólogo no âmbito escolar. Atualmente, a escola tem solicitado laudos psicológicos, tendo em mente compartilhar e sanar as angústias vividas com esse cliente. Essa mudança ocorreu, por exemplo, com as novas diretrizes sobre a educação especial. Antes, essas solicitações eram dirigidas para um encaminhamento, por exemplo, para um ensino especial e, neste sentido, verifica-se nos últimos anos uma mudança positiva onde o compromisso do profissional psicólogo aumentou. Se antes, a avaliação psicológica era para a tomada de decisões – exemplificando - se determinada criança deveria ou não frequentar uma sala de aceleração, hoje, a escola "cobra" do psicólogo como este profissional deve lidar com determinada problemática no ambiente escolar e, além disso, solicita que o psicólogo desenvolva instrumentos para lidar individualmente com o cliente ou a família, no sentido de garantir, pelo menos, uma boa socialização e escolarização. Segundo Poelman (2012), nos quase cinquenta anos de Psicologia no Brasil, o conceito de psicodiagnóstico foi passando por transformações, acompanhando o desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão. A autora relata que logo após o reconhecimento da profissão no Brasil, o trabalho do psicólogo foi marcado pela busca da objetividade e da quantificação e isso se refletia no modelo de psicodiagnóstico que então se praticava: o modelo psicométrico. Baseia-se esse modelo no conceito segundo o qual as diferenças individuais são de natureza quantitativa e podem, portanto, ser objeto de medição. Isto dá muita ênfase à aplicação e avaliação por meio de testes psicológicos, com a finalidade de subsidiar e oferecer mais solidez à apreciação clínica do psiquiatra ou outro profissional. Esse modelo ainda manifestava, segundo a própria autora, a necessidade de afirmação do caráter científico da Psicologia e da fundamentação teórica sólida para o trabalho do psicólogo.

                   Com o decorrer do tempo, através da experiência e a partir das contribuições da psicanálise e das teorias humanistas em Psicologia, foram surgindo outros modelos, entre eles, os que se estruturam segundo o modelo psicanalítico, os que reproduzem o modelo médico e os que adotam o modelo compreensivo. De modo mais geral, pode-se dizer que esses modelos se agrupam em duas categorias: os que fazem a abordagem do cliente pela via da explicação - tendência objetiva (ênfase nos eventos do passado, visão determinista, buscando a identificação das causas do comportamento) e os que fazem a abordagem pela via da compreensão, numa tendência mais existencial (ênfase na vivência atual do cliente, buscando a identificação do sentido, do significado, para o cliente, da experiência vivida por ele). Os psicólogos humanistas questionam a abordagem objetiva, por julgarem que ela não é adequada a toda a faixa de fenômenos humanos. Ao longo do tempo (e de estudos), observou-se que seria mais eficaz a criação de um clima psicológico no qual pudesse haver a ‘superação ‘ do cliente por si mesmo – assim, ele poderia explorar, analisar e procurar soluções para os seus próprios problemas. Ainda, segundo a autora, essa posição expressa uma atitude de confiança na capacidade do organismo de fazer escolhas. O que permanece: De acordo com Yehia (2004), embora a prática do psicodiagnóstico venha sendo discutida há vários anos, ela ainda é concebida em sua forma tradicional, ou seja, como um atendimento que resulta em uma avaliação que poderá levar a uma indicação terapêutica mais bem fundamentada. Esse modo de realizar o psicodiagnóstico faz com que haja uma separação nítida entre a etapa do diagnóstico (em que a proposta é a realização de uma investigação) e a devolução do conhecimento e compreensão adquiridos a partir da investigação. Este procedimento dificulta a retomada de atitudes do paciente que possam contribuir para uma melhor integração do material devolvido, já que o momento em que se dá a devolução se refere a acontecimentos passados.

              O papel da psicometria: Segundo Pasquali (2008), etimologicamente, psicometria representa a teoria e a técnica de medida dos processos mentais, especialmente aplicada na área da Psicologia e da Educação. Ela se fundamenta na teoria da medida em ciências em geral, ou seja, do método quantitativo que tem, como principal característica e vantagem, o fato de representar o conhecimento da natureza com maior precisão do que a utilização da linguagem comum para descrever a observação dos fenômenos naturais. Historicamente, a psicometria tem suas origens na psicofísica dos psicólogos alemães Ernst Heinrich Weber e Gustav Fechner. O inglês Francis Galton também contribuiu para o desenvolvimento da psicometria, criando testes para medir processos mentais; inclusive, ele é considerado o criador da psicometria. Foi, contudo, Leon Louis Thurstone, o criador da análise fatorial múltipla, que deu o tom à psicometria, diferenciando-a da psicofísica. Esta foi definida como a medida de processos diretamente observáveis, ou seja, o estímulo e a resposta do organismo, enquanto a psicometria consistia na medida do comportamento do organismo por meio de processos mentais (lei do julgamento comparativo). Segundo Araújo (2007), o modelo psicométrico manteve a preocupação de avaliar com objetividade e neutralidade, inaugurando uma fase de maior prestígio da Psicologia, em que os testes psicológicos passaram a ser usados na classificação e medida da capacidade intelectual e aptidões individuais.

           A Psicometria ampliou a área de atuação da Psicologia – da clínica para as áreas escolar (diagnóstico de dificuldades de aprendizagem das crianças) e profissional (seleção de indivíduos para funções específicas). Com essa expansão, o psicólogo ganhou maior autonomia: os resultados dos testes deixaram de ser obrigatoriamente entregues ao médico ou a outros profissionais; os próprios psicólogos começaram a prestar orientação aos pais e professores e até mesmo aos médicos. No modelo psicométrico, tornou-se menos importante detectar e classificar os distúrbios psicopatológicos; a ênfase passou a ser dada à identificação das diferenças individuais e orientações específicas. Esse modelo foi muito valorizado nos Estados Unidos, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial, quando se atribuiu à Psicologia a função de selecionar indivíduos aptos e não-aptos para o exército, bem como avaliar os efeitos da guerra sobre os que retornavam.
           
            O presente trabalho foi realizado através da leitura de cinco artigos científicos, tendo como foco o Psicodiagnóstico. As principais questões elaboradas pelo professor foram respondidas por meio de Resumos. Foi realizada, com o intuito de acrescentar informações relevantes para as respostas do questionário, a leitura de dois artigos adicionais, intitulados: “Retomando o conceito de psicodiagnóstico: Uma proposta de definição a partir da relação psicólogo-cliente”, da autora Ana Maria Sarmento Seiler Poelman (1993 e revisto em 2012); e “Psicometria”, de Luiz Pasquali (2008).

            Artigos utilizados (de acordo com os intervalos de datas passadas pelo professor) e pesquisados no SciELO (Scientific Eletronic Library Online):
 ARAUJO, Maria de Fátima. Estratégias de diagnóstico e avaliação psicológica. Psicol. teor. prat. [online]. 2007, vol.9, n.2, pp. 126-141. ISSN 1516-3687.
 YEHIA, Gohara Yvette. Interlocuções entre o plantão psicológico e o psicodiagnóstico colaborativo. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2004, vol.21, n.1, pp. 65-72. ISSN 0103-166X.
SILVEIRA, Aníbal. Nossa notação m' na prova de Rorschach: ampliação e restrição do fator m de Klopfer. Arq. Neuro-Psiquiatr. [online]. 1972, vol.30, n.2, pp. 95-110. ISSN 0004-282X. FRANCISCO, Marina Tschiptschin. O diálogo em quadrinhos: (como recurso para psicodiagnóstico e para psicoterapia). Psicol. cienc. prof. [online]. 1989, vol.9, n.2, pp. 31-34. ISSN 1414-9893.
 ANDALO, Carmem Silvia de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Psicol. cienc. prof. [online]. 1984, vol.4, n.1, pp. 43-46. ISSN 1414-9893.

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