PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA EM PERSPECTIVA:
 
A EXPERIÊNCIA EM UMA RÁDIO COMUNITÁRIA

 

Priscila Psicóloga

 

RESUMO: O presente trabalho foi realizado inicialmente por meio de uma pesquisa bibliográfica prévia enfocando os conceitos relacionados à psicologia social e psicologia social, comunitária por meio de uma breve síntese. A psicologia social comunitária surge em 1975 na América Latina a partir da necessidade de se repensar a psicologia social tradicional, buscar novas formas de intervenção diferentes das que até então tinham produzidos poucos resultados sociais significativos. Para ampliar o aspecto social e promover mudanças por meio do comprometimento ético e político, iniciou-se a construção de um paradigma denominado de psicologia social comunitária. A problematização acerca das bases teóricas e o padrão de intervenção relacionado à psicologia social partem de múltiplas questões, posto que nesse caso o psicólogo esteja diante da análise de representações que envolvem outras áreas e seu objeto de estudo se torna multidisciplinar por natureza. A identificação do objeto de estudo se mostra necessária por permitir a compreensão das especificidades do campo e suas inter-relações com outras áreas de estudo, buscando as semelhanças e divergências entre estas. Esse artigo objetivou apresentar os objetos de estudo da psicologia social psicologia social comunitária por meio de uma breve síntese conceitual como forma de subsidiar a discussão aqui apresentada. Interessa com essa revisão bibliográfica levantar subsídios para análise da atuação social de uma rádio comunitária como estudo de caso. A pesquisa permite realizar um exame crítico acerca da experiência da ação em um rádio comunitária como objeto de intervenção no âmbito da psicologia social comunitária.

 

Palavras-chave: Psicologia; Psicologia Social Comunitária; Rádio Comunitária

 


ABSTRACT: This work was done initially through a prior literature focusing on the concepts related to social psychology and social psychology, community through a brief summary. Community social psychology arises in 1975 in Latin America from the need to rethink the traditional social psychology, find new ways to different intervention of the few significant social results had ever produced. To enlarge the social aspect and promote change through ethical and political commitment, began the construction of a paradigm called community social psychology. The questioning about the theoretical basis and the pattern of intervention related to social psychology run multiple issues, since in this case the psychologist is on the analysis of representations involving other areas and its subject matter becomes multidisciplinary in nature. The identification of the subject matter appears necessary to allow the understanding of the specifics of the field and their interrelations with other areas of study, looking for similarities and differences between them. This article aims to present the objects of study of social psychology, community and social community through a brief conceptual synthesis as a way to support the discussion presented here. Interests with this literature review gather information for analysis of social action of a community radio as a case study. The research allows for a critical examination of the experience of action in a community radio as the object of intervention within the community social psychology.

 

Keywords: Psychology; Community Social Psychology ; Community Radio

 

Graduando do Curso de Psicologia da faculdade- SEFLU- Sociedade Educacional Fluminense - Nilópolis/RJ - Autora Priscila Brasil - Diretora Secretária Executiva da Radio Alternativa FM do ano 2004 a 2015 - priscilabrasilrj@gmail.com

 

INTRODUÇÃO

 

Este artigo trata da discussão sob a perspectiva da psicologia social comunitária a partir da experiência da atuação de uma rádio comunitária. Por visar à qualidade de vida da população por meio de instrumentos e práticas em grupos sociais específicos essa forma de comunicação surge como objeto de estudo de caso.

A psicologia social tem como foco a investigação das relações interpessoais e a psicologia social comunitária busca a ampliação deste aspecto para as premissas de uma intervenção na busca de promover mudanças por meio do comprometimento ético e político.

Cabe aqui ressaltar que será realizada uma análise a analisar das práticas sociais realizadas na Rádio Comunitária Alternativa FM 100.1, no município de Queimados - RJ. Esses veículos que por vezes estão realizando um trabalho de ação social que deveria ser feito pelo Estado, suprindo assim uma demanda por parte da sociedade de busca por informação e cultura se encontram á margem da legalidade por conta da complexidade relacionada a forma de legalização que envolvem questões de cunho político, técnico e financeiras, etc., o que acaba por inviabilizar a atuação dentro da legalidade.

A comunicação comunitária surge como alternativa democrática na promoção da cidadania e as experiências decorrentes dessa forma de atuação se mostram como ferramentas de busca pela emancipação dos sujeitos e afirmação de suas identidades culturais, logo devem servir de experiência reflexiva aos psicólogos, sejam aqueles que estejam em vias de formação ou não.

Da análise aqui realizada foi possível perceber que a rádio comunitária escolhida como objeto de estudo de caso está inserida em um contexto de disparidade social e de grandes demandas sociais por parte da comunidade, na qual o Estado se mostra ausente. Apesar de realizar um trabalho social tão importante ainda sofre com a dificuldade para se manter funcionando, pois como não está vinculada a nenhum grupo político de status é considerada clandestina.

 

SOCIAL E PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA: CONCEITUAÇÕES POSSÍVEIS

 

A psicologia social tem como foco a investigação das relações interpessoais. A influência mútua entre o indivíduo e a comunidade possibilita observar a importância da constituição dos grupos, deste modo, foi possível averiguar o surgimento da psicologia comunitária como campo de pesquisa (LANE, 1981; RODRIGUES, 2002; VASCONCELOS, 1985).

Para ampliar o aspecto social e promover mudanças por meio do comprometimento ético e político, iniciou-se a construção de um paradigma denominado de psicologia social comunitária. O desenvolvimento destas áreas de atuação contribuiu para o aperfeiçoamento das práticas psicológicas, entretanto, alguns pontos de congruência precisam ser analisados numa visão crítica (AZEVÊDO, 2009).

A problematização acerca das bases teóricas e o padrão de intervenção relacionado a psicologia social partem de múltiplas questões, posto que nesse caso o psicólogo está diante da análise de representações que envolvem outras áreas e seu objeto de estudo se torna multidisciplinar por natureza.

Para que se tenha uma atuação com qualidade é importante recorrer a estudos científicos que contextualizem com nitidez o que se pretender compreender por meio do aspecto social que se propõe a intervir. Nesse sentido este trabalho busca contribuir para a ampliação dessa discussão com foco no âmbito comunitário (BEVILAQUA, 2008).

A definição dos parâmetros toma importância na medida em que compromete a forma como os fenômenos sociais devem ser investigados nesta área, bem como sobre a possibilidade de se desenvolver diretrizes para uma práxis do psicólogo no âmbito comunitário.

A identificação do objeto de estudo se mostra necessária por permitir a compreensão das especificidades do campo e suas inter-relações com outras áreas de estudo, como por exemplo, a sociologia, a antropologia, economia, ciência política, etc. buscando as semelhanças e divergências entre estas.

Dessa forma, justifica-se a importância de delimitar o foco de análise para contribuir com o desenvolvimento científico e o reconhecimento das atividades profissionais. Esse artigo objetivou apresentar os objetos de estudo da psicologia social, comunitária e social comunitária por meio de uma breve síntese conceitual como forma de subsidiar a discussão aqui apresentada.

A interdisciplinaridade da psicologia social está presente desde o início de sua constituição com o surgimento de uma nova perspectiva dentro das ciências sociais. Teóricos como Augusto Comte (1830-1842), Gabriel Tarde (1843-1904) e Émile Durkheim (1858-1917), contribuíram para a ampliação do espectro de estudo da sociedade como objeto de pesquisa ao colocarem sob perspectiva, cada uma a sua maneira, as inter-relações entre individuo e seu meio social (ÁLVARO; GARRIDO, 2006).

Gustave Le Bon (1895), teórico social do século XIX teve como objeto de estudo o que ele chamou de “a psicologia das multidões”. Na perspectiva deste teórico os indivíduos determinam sua conduta pelo compartilhamento de idéias com o grupo social o qual pertence (GONZÁLEZ REY, 2004). Nesse sentido, segundo Azevêdo (2009, p. 66), George Mead à mesma época enfatizou em seus estudos a importância da “comunicação como recurso mediador na construção da identidade, por meio do interacionismo simbólico”.

Mead colaborou de forma definitiva para o progresso dos estudos ligados à psicologia social, sua perspectiva ao permitir destacar o papel das relações interpessoais na construção da subjetividade humana deu um novo impulso às pesquisas acerca dos papeis sociais dos indivíduos em grupo (AZEVÊDO, 2009).

Wundt (1832-1920) realizou um estudo focado na psicologia dos povos, no qual deu destaque aos mitos, costumes e linguagem dos indivíduos em perspectiva histórica. Este estudo de Wundt, dentre outros, foi especialmente importante, pois permitiu o início da compreensão sobre a influência dos fatores culturais na formação do indivíduo (BERNARDES, 2007).

Nos Estados Unidos a institucionalização da psicologia social se deu na perspectiva comportamental de Floyd Allport (1890-1978) apresentada na década de 1920 no qual destacava a importância da investigação focada na influência que os fatores socioculturais exerciam sobre o comportamento dos indivíduos em suas inter-relações nos grupos sociais (GONZÁLEZ-REY, 2004 apud AZEVÊDO, 2009, p. 66).

A psicologia social ganha notoriedade no Brasil principalmente a partir de 1960 a 1970, porém neste período as referências teóricas eram estadunidenses (GONZÁLEZ-REY, 2004). Somente em 1980 é que houve a institucionalização da psicologia social no país por meio da criação da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), com o objetivo de compartilhamento de experiências, definição de objeto de estudo e possibilidades de intervenção (BERNARDES, 2007).

Segundo Gonçalves e Portugal (2012, p. 139),

A emergência e a formação da Psicologia social comunitária (PSC) no Brasil, nos últimos 50 anos, foram marcadas, por um lado, pela contraposição aos dispositivos conceituais, aos locais de trabalhado consagrados e às práticas da psicologia social norte-americana ao longo do século XX e, por outro, pela inserção da noção de comunidade em seu conjunto de princípios.

 

Para alguns autores é a partir de 1970 que a psicologia social se transforma significativamente em decorrência das problematizações acerca de sua utilidade como ciência social (LANE, 1996). É em meio a essa crise que surge um conjunto de questionamentos que se relacionam com o aparecimento de várias propostas para esta ciência no Brasil e na América Latina.

Dentre as questões que se levantavam estavam a falta de relevância social das pesquisas na área de psicologia social e a necessidade de se buscar uma conexão com a realidade histórico-social e política latino-americana e o efetivo compromisso com a mudança social do continente (GONÇALVES, 2012).

Góis (2008, p. 277) afirma que,

[...] Na América Latina, a expressão “Psicologia Comunitária” é empregada desde 1975, com o objetivo de se fazer uma nova Psicologia Social, a partir da preocupação de alguns psicólogos de distintos países latino-americanos com os escassos resultados sociais da Psicologia Social tradicional e por haver uma grande necessidade de superar os graves problemas sócio-econômicos que ainda hoje afetam a região.

A própria definição de psicologia social está associada à utilização do método científico para investigar a forma como as pessoas se relacionam umas com as outras e os padrões de pensamento e comportamentos daí decorrentes, considerando o ambiente como uma variável determinante na dinâmica comportamental dos indivíduos (RODRIGUES, 2002).

Segundo Rodrigues, Assmar e Jablonski (2000) apud Azevedo (2009, p. 67), a psicologia social,

[...] busca compreender os processos cognitivos e comportamentais que são utilizados pelos indivíduos nas relações sociais. Dessa forma, diversas temáticas podem ser investigadas, tais como, preconceito, violência, e as pesquisas procuram analisar as repercussões desses fenômenos na esfera social.


Já o conceito de psicologia social comunitária significa a busca na melhora da qualidade de vida da população por meio de práticas que induzam os indivíduos a práticas sociais mais conscientes no seio de sua comunidade. (ANDREY, 2001).

A psicologia social comunitária surge em 1975 na América Latina a partir da necessidade de se repensar a psicologia social tradicional, buscar novas formas de intervenção diferentes das que até então tinham produzidos poucos resultados sociais significativos. Ou seja, a psicologia social comunitária surge num contexto de graves problemas sociais e de extrema desigualdade socioeconômica (GÓIS, 2008. p. 278).

Enquanto a psicologia tradicional tinha um foco específico voltado para estudos de grupos com vistas ao ajustamento social dos indivíduos a padrões sociais abstratos sem vinculação com a realidade histórico-cultural, ou seja, tinham o individuo como objeto estático de estudo no intuito de descrevê-lo para explicá-lo, utilizando-se de análise de dados sem levantar questões de cunho ideológico afetas às relações de classe.

A psicologia social comunitária surgiu exatamente para questionar essas posturas e concepções e buscar elaborar novas formas de intervenção que levassem em conta o contexto social e cultural no qual está inserido o indivíduo buscando compreendê-lo e capacitá-lo a modificar suas condições de vida.


RÁDIO COMUNITÁRIA E PRÁTICAS SOCIAIS


Segundo Guindani et. al. (2009, p. 01) “a comunicação comunitária é um movimento consistente e crescente em toda a América Latina e no Brasil há mais de 30 anos”. Entre 1960 e 1970 é que se inicia uma perspectiva crítica dentro da América latina no que se refere à comunicação, principalmente por conta do contexto histórico à época (BERGER, 2008, p. 247).

A chamada comunicação comunitária surge como possibilidade democrática no fortalecimento da cidadania e as experiências decorrentes dessa forma de atuação se mostram como ferramentas de busca pela emancipação dos sujeitos e afirmação de suas identidades culturais.

Conforme analisa Fávero (2006, p. 89) apud Almeida (2009, p. 02),

“[...] um exemplo de intervenção social se expressa no Movimento de Educação de Base (MEB), que teve início em 1961, com a instalação de escolas radiofônicas em diversos estados brasileiros”. Nos dois primeiros anos, o trabalho era limitado à alfabetização e à divulgação de noções elementares de saúde, de associativismo e de procedimentos técnicos na agricultura.Nos anos seguintes, o trabalho do movimento passou a requerer “a transformação da realidade para a libertação das classes dominadas”. Vale dizer que a maioria dessas experiências foi brutalmente interrompida durante o governo autoritário.


Dessa forma, os movimentos sociais sempre buscam alternativas para difusão de informações de forma democrática, porém seu funcionamento ainda têm se pautado pela inconstância e pelo curto campo de alcance geralmente limitado á comunidade a qual pertence o veículo de comunicação.

A forma de legalização de um veículo comunicativo é extremamente complexa e envolvem questões de cunho político, técnico e financeiras, etc., o que inviabiliza a atuação dentro da legalidade por parte desses veículos que por vezes estão realizando um trabalho de ação social que deveria ser feito pelo Estado, suprindo assim uma demanda por parte da sociedade de busca por informação e cultura.

Diante dessas questões, este artigo se propõe a analisar as práticas sociais realizadas na Rádio Comunitária Alternativa FM 100.1, no município de Queimados - RJ.

INTERVENÇÕES DO PSICÓLOGO NO ÂMBITO COMUNITÁRIO: A EXPERIÊNCIA DA ATUAÇÃO DE UMA RÁDIO COMUNITÁRIA EM QUEIMADOS - RJ


Este relato se baseia na experiência da autora à frente de ações de cunho social na Rádio Comunitária Alternativa FM 100.1, no município de Queimados – RJ, a partir da perspectiva de que a psicologia social comunitária pretende trazer melhoria na qualidade vida aos cidadãos, esta exposição traz para análise as práticas sociais realizadas em uma rádio comunitária cuja difusão de conteúdo tem como foco a conscientização dos indivíduos.


A COMUNIDADE ANTES DA RADIO COMUNITÁRIA

  No início da década de 80, muitos moradores  estavam, se organizando em forma de Associações de Bairro, através de reuniões e boletins, as informações chegavam em uma parcela mais privilegiada da população, onde o poder público se fazia presente com transporte e o mínimo de serviços possíveis.

  Porem, era muito difícil mobilizar um bom numero de moradores para uma causa em comum, muitas vezes a falta de informação que tinha suas limitações devido a várias barreiras como, a distancia entre os associados, o ruído ( dificuldade de entendimento de uma informação) que muitas vezes causado pelo nível social de quem transmitia a informação e a percepção de quem recebia a informação, que em sua maioria , constituída  por pessoas da periferia com baixo nível escolar.

  Outro fator que limitava a informação era a distorção causada pelos interlocutores da mensagem, que muitas vezes recebiam a mensagem de forma oral e retransmitiam também de forma oral, as distorções aconteciam muitas vezes por desconhecimento  do assunto, por seleção ou distorção da informação por parte de quem deveria compartilhar com os demais.

Partindo do princípio que a comunicação e a informação  é um direito de todos e a necessidade da população em  ter um meio de comunicação em massa que chegasse a todos os bairros e todas as comunidades de forma eficiente, surge no seio da comunidade os movimentos favoráveis  a democratização da comunicação em apoio a  implantação do movimento nacional das rádios comunitárias, que incentivou ao formação de muitas outras emissoras comunitárias.

Depois de muitas reuniões,  foi fundada a Associação Cultural de Radiodifusão Comunitária, com sede da Praça N.S. da Conceição. Sobre loja 23 . Galeria Top Center Queimados.  Com finalidade de:  Promover a integração das comunidades, dar oportunidade à difusão de idéias e atender o Art. 3º da LEI Nº 9.612, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.



Art. 3º O Serviço de Radiodifusão Comunitária tem por finalidade o atendimento à comunidade beneficiada, com vistas a:

I - dar oportunidade à difusão de idéias, elementos de cultura, tradições e hábitos sociais da comunidade;

II - oferecer mecanismos à formação e integração da comunidade, estimulando o lazer, a cultura e o convívio social;

III - prestar serviços de utilidade pública, integrando-se aos serviços de defesa civil, sempre que necessário;

IV - contribuir para o aperfeiçoamento profissional nas áreas de atuação dos jornalistas e radialistas, de conformidade com a legislação profissional vigente;

V - permitir a capacitação dos cidadãos no exercício do direito de expressão da forma mais acessível possível.

Art. 4º As emissoras do Serviço de Radiodifusão Comunitária atenderão, em sua programação, aos seguintes      princípios:

I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas em benefício do desenvolvimento geral da comunidade;

II - promoção das atividades artísticas e jornalísticas na comunidade e da integração dos membros da comunidade atendida;

III - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família, favorecendo a integração dos membros da comunidade atendida;

IV - não discriminação de raça, religião, sexo, preferências sexuais, convicções político-ideológico-partidárias e condição social nas relações comunitárias.

§ 1º É vedado o proselitismo de qualquer natureza na programação das emissoras de radiodifusão comunitária.

§ 2º As programações opinativa e informativa observarão os princípios da pluralidade de opinião e de versão simultâneas em matérias polêmicas, divulgando, sempre, as diferentes interpretações relativas aos fatos noticiados.

§ 3º Qualquer cidadão da comunidade beneficiada terá direito a emitir opiniões sobre quaisquer assuntos abordados na programação da emissora, bem como manifestar idéias, propostas, sugestões, reclamações ou reivindicações, devendo observar apenas o momento adequado da programação para fazê-lo, mediante pedido encaminhado à Direção responsável pela Rádio Comunitária.


Cabe à rádio intervir em sua comunidade por meio da difusão e ampliação do acesso a temáticas muitas vezes deixadas de lado pelas rádios comerciais. A rádio comunitária  proporciona  práticas  sociais diferenciadas exatamente porque não se subsume a nenhum outro ditame de cunho comercial ou político.

Nesse sentido permite-se ser um veículo independente de difusão de conhecimento e cidadania. Conforme exposto na parte teórica deste artigo foi possível detectar segundo Gòis (2008, p. 277) que:

 

O distanciamento dos modelos predominantes na Psicologia Social dos problemas sociais e sua incapacidade de dar respostas a estes problemas levaram um grupo de Psicólogos Sociais a questioná-la em seus objetivos, concepções, ações e resultados. Este movimento na Psicologia Social defendia a diversidade cultural e enfocava o contexto e a ideologia como questões que deveriam ser centrais na área. Preocupava-se também com uma relação mais ativa e comprometida dos Psicólogos com os problemas da sociedade.


É esse comprometimento que a autora advoga como parte essencial da função de psicólogo e a experiência em uma rádio comunitária permitiu detectar a necessidade de maior envolvimento desses profissionais nas demandas sociais provenientes dos grupos mais vulneráveis. Sua experiência aponta para uma temática de extrema importância e por vezes desconsiderada enquanto possibilidade de atuação por parte dos psicólogos atualmente.

Esse deve ser o paradigma a orientar tanto a formação quanto a intervenção social do psicólogo envolvido com a psicologia comunitária em detrimento aos modelos tradicionais e buscar sedimentar a emergência de novos valores sociais e humanos (MARTÍN-BARÓ, 1994).

Conforme define Almeida (2009) a atuação do psicólogo em ações de cunho social comunitária possibilita “compreender melhor a formação do sujeito, das suas identidades e da preservação da memória local” (p. 03).

Nesse sentido que o processo de participação popular proporcionado pela rádio comunitária se coloca como fomento ao desenvolvimento social das famílias que se envolvem nas ações promovidas pelo veículo comunicativo. As rádios comerciais têm seu foco no lucro e muitas vezes sequer estão preocupados com a condição de exclusão social e negação de direitos por parte do estado aos moradores.

Segundo relato da autora a Rádio Comunitária Alternativa FM 100.1,

[...] funciona como meio de acesso e transmissão de informações mais vinculadas a sua identidade local.  Nós damos voz às reivindicações dos moradores da comunidade, sem qualquer preconceito quanto á sua condição social. Muitos nos buscam para buscar ou anunciar oportunidades de emprego, buscar algum parente desaparecido, solicitar alguma ajuda médica ou social.

A autora relata que a rádio comunitária oferece uma programação variada e realiza trabalhos de divulgação, como campanhas de vacinação, projetos sociais e divulga ações do governo local de interesse da comunidade. Para a autora:

[...] o que me chama mais atenção é o apelo que é feito no ar para pessoas que precisam de cestas básicas, empregos cadeiras de rodas e diversos outros tipos de ajuda.


Nesse sentido percebe-se que a Rádio Comunitária Alternativa FM 100.1 está inserida em um contexto de desigualdade social e de grandes demandas sociais por parte da comunidade, na qual o Estado se mostra ausente. Segundo informações, vem mantendo seu funcionamento resguardado por liminar e não está vinculada a nenhum grupo religioso ou político.

Seria importante todos reconhecerem que a atuação destes veículos deveria ser vista como importante por prestarem um serviço essencial para as comunidades a qual estão inseridas.
 
By  Priscila Psicóloga

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÁLVARO, J. L., & GARRIDO, A. (2006). Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill.

ALMEIDA, C. C. R. Conselhos gestores e regulação: a assistência social em tempos de

transição. Política & Sociedade, Florianópolis, v. 8, n. 15, p. 251‑269, 2009.

ANDREY, A. A. Psicologia na comunidade. In. LANE, S.T.M.; CODO,W (Org.). Psicologia social: o homem em movimento. 13a edição. São Paulo: Brasiliense, 2001.

AZEVÊDO, Adriano Valério dos Santos. A psicologia social, comunitária e social comunitária: definições dos objetos de estudo. Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 3, n. 3, jul./dez. 2009. Disponível em: <periodicos.piodecimo.edu.br/online/index.php/psicologioemfoco>. Acesso em 20/03/2015.

BEVILAQUA, M. H. O.; BROCHIER, J. I. A práxis do psicólogo no âmbito comunitário: um saber fazer crítico-transformador ou assistencialista paternalista? In: XV ENCONTRO NACIONAL DA ABRAPSO, 2009, Maceió. Anais do XV Encontro Nacional da ABRAPSO. Disponível em: http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/143.pdf. Acesso em: 20/03/2015.

BERGER, Christa. A pesquisa em comunicação na América Latina. HOHLFELDT, Antonio, MARTINO, Luiz C. e FRANÇA, Vera Veiga (orgs.). Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 8. ed., Petrópolis, Vozes, 2008.

BERNARDES, J.S. História. In: JACQUES, M.G.C. et al (Orgs.), Psicologia Social Contemporânea. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p.19-35.

BROCHIER, J. I.; BEVILAQUA, M. H. O. ; SOARES, H. S.. Representação gráfica da práxis do psicólogo e do profissional de educação física no âmbito sócio-comunitário: manutenção ou transformação da ordem social. In: Diálogos em psicologia social, 2007, Rio de Janeiro. Anais do XIV encontro Nacional da Associação Brasileira da Psicologia Social - ABRAPSO. Rio de Janeiro: UERJ, 2007.

COSTA, Rildo Albino da. A Importância das Rádios Comunitárias para as Comunidades em que Estão Inseridas. Disponível: <http://www.usp.br/anagrama/Albino_progresso.pdf>  acesso em 19/03/2015.

FAVERO, Osmar (org.). Cultura popular e educação popular: memória dos anos 60. Rio de Janeiro, edições Graal, 2006.

GUINDANI, J. F.; NEULS, Gisele; ALMEIDA, C. D., “Rádio Comunitária: cenários de resistências e possibilidades alternativas,” Unbral Fronteiras, Disponível em: <http://unbral.nuvem.ufrgs.br/base/items/show/900>. Acesso em 20/03/2015.

GONÇALVES, Mariana Alves; PORTUGAL, Francisco Teixeira. Alguns apontamentos sobre a trajetória da Psicologia social comunitária no Brasil. Psicol. cienc. prof. [online]. 2012, vol.32, n.spe, pp. 138-153. ISSN 1414-9893.

GÓIS, Cezar Wagner de Lima. Psicologia comunitária-doi: 10.5102/ucs. v1i2. 511. Universitas: Ciências da Saúde, v. 1, n. 2, p. 277-297, 2008.

GONZÁLEZ REY, F. O social na psicologia e a psicologia social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

LANE, Sílvia T.M. (1996). Histórico e fundamentos da Psicologia Comunitária no Brasil, in: Freitas Campos e outros. Psicología Social Comunitaria: da solidariedade à autonomia, Rio de Janeiro, Vozes, 1996: 17-34.

LANE, S., & CODO, W. (1984). Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense.

MARTÍN-BARÓ, Ignacio (1991): Métodos en Psicología Política (en Maritza Montero, coord., Acción y Discurso: Problemas de Psicología Política en América Latina, Caracas, Eduven, 1991: 39-58).

RODRIGUES, A., ASSMAR, E. M. L., & JABLONSKI, B. (2000). Psicologia social (18ª ed. ref.). Petrópolis: Vozes.


Comentários